Roberto Muggiati
para a MANCHETE
ALEXANDRE RAPOSO ESTREOU na ficção com um romance histórico sobre a saga dos Incas. Agora, com Memórias de um diabo de garrafa, ele se solta mais e faz uma fusão de ficção e história, elegendo como narrador um diabo que atravessa 500 anos sem jamais ter saido de uma garrafa de pouco mais de meio litro de capacidade. O lançamento do livro coincidiu com a recente nova investida da Igreja Católica contra o demônio, que culminou com a divulgação, pelo Vaticano, do seu novo manual de exorcismo, De exorcismis et supplicationibusquibusdam. O livro de Raposo não trata do Maligno, primeiro e único, mas de um aparentemente inofensivo diabo de garrafa (entidade muito próxima ao gênio da lâmpada) que vai mudando de mãos ao longo dos séculos. (Raposo não é roqueiro, mas sua história lembra um pouco a letra de Sympathy for the Devil, dos Stones, que fala de um demônio que participou da agonia dé Cristo, da morte dos Romanov na Revolução Russa, do assassinato dos Kennedy.)
A saga do bichinho da garrafa é um pretexto para traçar perfis de curiosas figuras históricas, desde o artista florentino Benvenuto Cellini, que conjurou o diabo numa madrugada de 1526 nas ruínas do Coliseu romano, até — passando pelo navegante português Nuno da Silva, pelo frade dominicano Suarez Gavillán e pelo virtuose do violino Paganini — o arqueólogo brasileiro José Afonso Gonçalves e seus herdeiros, aos quais foi legada a garrafa com o seu tripulante intacto.
A saga do bichinho da garrafa é um pretexto para traçar perfis de curiosas figuras históricas, desde o artista florentino Benvenuto Cellini, que conjurou o diabo numa madrugada de 1526 nas ruínas do Coliseu romano, até — passando pelo navegante português Nuno da Silva, pelo frade dominicano Suarez Gavillán e pelo virtuose do violino Paganini — o arqueólogo brasileiro José Afonso Gonçalves e seus herdeiros, aos quais foi legada a garrafa com o seu tripulante intacto.
Ao final, uma reflexão, honesta, do diabo de Raposo: “Os quase cinco séculos que vivi não me habilitaram a chegar a qualquer conclusão a respeito da condição humana, do sentido da vida, de onde viemos, para onde vamos etc. etc. etc.”
O livro termina com uma “Receita para se conjurar um diabo dentro de uma garrafa e mantê-lo ali per saecula saeculorum (Versão tropical atualizada)”. Quem quer tentar? Segundo Raposo, “se tudo correu como o espetado, há chances de você ser o feliz proprietário de um diabo de garrafa como eu”.
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Roberto Muggiati é escritor e jornalista.
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Roberto Muggiati é escritor e jornalista.
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