quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sobre Éden 4

Por José Mindlin

COMENTAR UMA OBRA DE Alexandre Raposo é um encargo muito atraente pois ele é um autor jovem que vem se destacando no panorama literário brasileiro. Seus dois primeiros livros — Inca e Memórias de um diabo de garrafa — revelam um apreciável talento em lidar com o romance histórico, ou com o que se poderia classificar de história romanceada, tal a semelhança com os fatos históricos que consegue dar a seus textos, frutos de muita pesquisa e de óbvia erudição. Alexandre Raposo escreve de forma extremamente agradável, entremeando a narrativa com muito humor, o que torna ainda mais prazeirosa a sua leitura.
   Antes de se tornar escritor foi, por vários anos, jornalista — uma excelente escola — mas em dado momento, como acontece com muitos de nós, sentiu a necessidade de optar entre o jornalismo e outra profissão — no caso, a literatura. Optou por esta, preparou-se durante vários anos, e os livros que publicou mostram que a escolha foi realmente acertada.
   Enquanto trabalha em novo romance, parece que resolveu testar sua versatilidade, enveredando pelo terreno do conto. Não foi, aliás, uma decisão surpreendente, pois a safra de contos publicados nos últimos anos é bem considerável e demonstra a popularidade que o gênero alcançou. A preferência do público poderia ser atribuída a uma aparente maior facilidade de leitura, e até mesmo de elaboração do conto, no ritmo apressado da vida de todos nós. Não que ler ou mesmo escrever um conto seja necessariamente mais fácil do que ler ou escrever um romance — muitas vezes, é o contrário que acontece. Nem significa que a preferência por um gênero exclua o outro, tanto que muitos grandes escreitores se dedicaram com sucesso a ambos. Lembremos, Machado de Assis, Somerset Maugham ou Guimarães Rosa.
   Não creio que exista, aliás, um critério para se determinar o que é melhor, se o conto ou o romance. De meu lado, gosto das duas coisas e acho que a aventura tentada por Alexandre Raposo é perfeitamente válida. Provavelmente quis ver como seria escrever textos que não exigissem um trabalho exaustivo de pesquisa, simplesmente dando largas à imaginação. Tinha todo direito de fazer essa experiência e este livro mostra que se saiu bem. Os contos são interessantes, alguns deles excelentes. Basta ler, por exemplo, “O Peixe-Rei”, “Succubus”, “A onda”, “A cerveja em três tempos” ou “Entrevista com um alienígena”.
   O curioso é que, nos contos, além do escritor, voltou a aparecer o jornalista, pois o tom da narrativa freqüentemente assume características de uma boa reportagem. Isso não é defeito, mas levado ao extremo poderia signficar um afastamento da literatura, tal como de modo geral a entendemos. Felizmente, não é o caso. Acho que, como disse, a experiência foi válida e o livro merece ser lido.
  Alexandre Raposo, que já era um bom romancista, revelou-se um bom contista. De sua pena, podemos esperar grandes coisas.

Um comentário:

  1. Parabéns Alexandre... ter seu talento reconhecido por um Imortal que dedicou sua vida a Literatura, com certeza, te dá forças para continuar a escrever, mesmo sabendo que, no Brasil, escritor morre de fome...

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